quinta-feira, 2 de abril de 2009
Porque Muitos Votaram no Lula
José Roberto de França Arruda
Prof. de Eng. Mecânica da UNICAMP
Voto em Lula porque ele representa o "justo meio termo" e porque é um humanista e um homem do que se pode chamar de "socialmente preocupado" (do inglês "socially concerned", expressão cunhada por Galbraith para a "nova esquerda") . Ele é atacado pela direita e pela esquerda, por tudo e pelo seu contrário. São evidências de que está no "justo meio termo", de que é um denominador comum dos anseios da população brasileira.
Na economia, Lula implementou, de fato, a autonomia do Banco Central, que era pedida pela quase totalidade dos economistas e setores empresariais, mas é atacado por supostas altas taxas de juros, quando todos sabem que quem dita as taxas de juros é o Banco Central. Ningém acusa os dirigentes e técnicos do BC; acusam o Presidente Lula por algo que é uma decisão técnica de um órgão autônomo do Estado (não mais do governo). Querem a profissionalização dos órgãos públicos, mas criticam quando isso é alcansado. A oposição diz que os juros reais estão muito altos, quando estão em queda e que jamais foram tão altos como no governo anterior (FHC). O mesmo vale para o câmbio.
Dizem que o real está sobre valorizado, mas nosso custo de vida é dos menores do mundo e nossas maiores cidades têm custo de vida inferior a todas as capitais de países desenvolvidos. Elas estiveram, sim, entre as mais caras do mundo, mas foi no governo anterior, da oposição, que hoje critica uma suposta baixa taxa de câmbio apesar de defender o câmbio flutuante.
A oposição, que critica é a mesma que quase destruiu nossa base industrial mantendo obstinadamente a paridade do Real com o Dólar ao final do primeiro mandato de FHC, levando a classe média alta a ir fazer suas compras anualmente nos EUA ou Europs, pois era mais barato fazer isso do que comprar aqui.
Na segurança, pela primeira vez um governo federal resolve iniciar um esforço de coordenação das polícias, reequipa e aumenta o efetivo da Polícia Federal, nelhora os salários nas forças armadas e aprimora o controle nas fronteiras. Entretanto, o descalabro dos sistemas prisionais estatuais, a ineficácia e a corrupção da justiça e das polícias dos estados e sua fraca ação social leva inexoravelmente ao aumento da violência (ainda que algumas estatísticas tenham melharado). E quem é acusado por isso? O Presidente da República.
Na indústria, Lula parou o processo açodado e mal feito de privatizações promovido pelo governo do Fernado Henrique Cardoso e é acusado pela direita de manter um estado demasiado grande e pela esquerda por não re-nacionalizar o que foi privatizado. O Governo Lula procurou reparar os erros colossais feitos nos contratos das Teles e outros setores que bem mareciam uma auditoria, como proposto pela esquerda, mas que poderia fazer mais estragos na imagem do país, que tanto precisa de estabilidade e cumprimento de contratos para baixar o risco país e, com isso, poder finalmente baixar os juros. Falta, ainda, reconstruir alguns setores destruidos no governo anterior. A decisão de usar o poder de compra da Petrobrás já fez reviver a indústria naval. Agora o Governo Lula quer recuperar a Marinha Mercante, que era uma das maiores do Mundo e simplesmente desapareceu com a abertura açodada de nossa navegação de cabotagem a empresas estrangeiras promovida pelo governo FHC.
Na educação, o governo de fato limitou-se a cumprir seu papel constitucional: cuidou do ensino superior, o único que está sob a sua responsabilidade, além das escolas técnicas. Melhorou as condições das universidades federais, cujos professores tiveram salários achatados no governo anterior, e criou inúmeras oportunidades de financiamento com base no mérito através de Editais de apoio à infra-estrutura e a projetos de pesquisa. Está promovendo um aumento sensível do número de vagas nas universidades federais e procurando aumentar o controle social das universidades privadas, que foram enormemente favorecidas pelo ex-Ministro Paulo Renato Souza do governo do PSDB. O problema é que estados e municípios não cumprem com o papel constitucional nos ensinos básico e médio. São Paulo, que teve um dos melhores sistemas de ensino público do país, praticamente destruiu este sistema nas últimas décadas.
Na área social, nem é preciso dizer. Os números falam por si. É o primeiro governo que, desde o regime militar, melhora a distribuição de renda neste país. São programas sociais criticados pela direita, que avha que programa social é " dar dinheiro a vagabundo" e pela esquerda, que queria vê-los ampliados, "tirando o dinheiro dos banqueiros", como se eles não soubessem tirar o dinheiro do país antes que algum governo pense em fazer isso. Iniciou, de forma pioneira, as políticas de ação afirmativa, com a criação de cotas nas universidades, inclusive as estaduais paulistas que no discurso oficial criticam as cotas, já estão implementando programas de discriminação positiva com base em critérios de origem social e racial (ainda que sem muito fundamento científico, o conceito de raço é socialmente muito concreto e claramente demonstrável). Na verdade o que possivelmente trava a aprovação da reforma da universidade, por trás dos belos discursos, são as interesses das universidades particulares mercantilistas, que passariam a ter um maior controle pela sociedade.
Na saúde, o governo lutou como nunca para reforçar os programas preventivos, de apoio à família, de vigilância epidemiológica, de apoio ao SUS, e não apenas nas campanhas de grande apelo publicitário como o programa de fornecimento de remédios para AIDS do governo, que teve a devida continuidade. O empenho de países como a África do Sul, muito mais do que do governo brasileiro anterior, que tanto alardeou na mídia, permitiu negociações frutíferas com os grandes lçaboratórios multinacionais, que passaram a negociar preços melhores para os países mais pobres. Este esforço deve continuar num esforço conjunto de vários países, e nehum presidente brasileiro teve tanto prestígio junto à comunidade dos países em desenvolvimento como Lula e, portanto, tão boas condições de dar continuidade a este esforço.
Na política externa, nunca nossas embaixadas se empenharam tanto na promaoção dos nossos produtos brasileiros no exterior. Nunca um presidente teve tanto prestígio junto à comunidade internacional e foi tão ouvido em relação aos grandes problemas mundiais, como conflitos e meio ambiente. Poucos presidentes são, hoje, como ele, capazes de manter diálogo construtivo com Fidel Castro, Hugo Chávez e George Bush, sendo bem recebido por todos eles. Poucos lutaram tanto pelo prestígio do país, não dele próprio, como fez bem nosso presidente anterior (FHC). Nunca nosso país defendeu tão bem seus interesses junto aos órgãos internacionais como a ONU, OMC, etc.
Enfim, temos um governo que procura sempre acertar num sincero e real empenho para melhorar as condições de vida do país, garantir sua soberania e seu desenvolvimento econômico e social sustentável. Entretanto, nunca um governo foi tão atacado por tudo e por seu contrário. É atacado por corrupção por combatê-la, como nunca se fez neste país.
É atacado pela insegurança, quando nehum governo federal fez tanto nesta área, que é de responsabilidade principalmente de governos de estados. É atacado pelos problemas da educação, quando nunca os setores superior e técnico, que estão sob sua responsabilidade, tiveram melhores condições na última década. É atacado pela reforma da previdência, que diminuiu privilégios insustentáveis; atacado pela esquerda, que queria mantê-los, e pela direita, que queria destruir o setor público. É atacado até mesmo o seus filhos, acusam de beber muito por maledicência, é atacado quando ataca a corrupção. Quando seu caráter o obriga a defender, ainda que tomando as providências cabíveis de afastamento do governo, companheiros de longa data e de currículo de peso na história deste país.
O Presidente Lula é um injustiçado pela mídia e por setores das classes mais abastadas, que, na verdade, nunca se conformaram com a idéia de ter um torneiro mecânico e ex-sindicalista, um "da Silva", no mais alto posto da nação.
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