sexta-feira, 3 de abril de 2009

Brasil: de Devedor à Credor com FMI


Londres
Luiz Inácio Lula da Silva


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, em entrevista na Embaixada do Brasil em Londres, depois da apresentação do documento final da reunião do G-20, que gostaria de entrar para a história como o primeiro presidente cujo governo vai emprestar dinheiro para o Fundo Monetário Internacional (FMI).

- Você não acha muito chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI? - perguntou o presidente a jornalistas.

A declaração foi feita depois que o G-20, grupo dos países desenvolvidos e emergentes, decidiu destinar U$S 1,1 trilhão para socorrer países afetados pela crise financeira.Desse total, U$S 750 bilhões serão destinados a economias de países em desenvolvimento e dos emergentes que sofrem com a falta de crédito; U$S 250 bilhões serão empregados em financiamentos para estimular o comércio exterior; e uma reserva extra, de U$S 100 bilhões, está prevista para socorrer as economias de países mais pobres.


O primeiro empréstimo do Brasil ao Fundo Monetário Internacional (FMI) depende de uma decisão fundamental: como fazê-lo de modo que o valor não seja contabilmente descontado das reservas do País. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem, em Londres, que técnicos estudam a possibilidade de o Brasil investir em títulos do FMI e se esse valor poderia ser contado como investimento. Isso permitiria, ao menos pelo lado técnico, que o dinheiro continuasse sendo contado normalmente nas reservas.

Mantega disse que só vai definir o montante depois de conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro se recusou a dizer até em torno de que patamar seria a contribuição. Mas aproveitou para provocar a China, que anunciou um aporte de US$ 40 bilhões. “Se eu tivesse dois trilhões de dólares de reservas, com certeza daria mais”, cutucou.

O anúncio deve sair nos próximos dias. Como condição, o dinheiro deverá servir para ajudar países emergentes, especialmente os latinos. “Gostaria de entrar para a história como o presidente que emprestou dinheiro ao FMI”, disse Lula, que já usou amplamente na campanha para a reeleição em 2006 o fato de ter quitado o empréstimo contraído por Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). “Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI? Não é uma coisa soberana”, brincou o presidente.

Após o aparente sucesso da reunião do G20, Lula disse que ninguém deve ter medo de cara feia: “Se o Cassius Clay tivesse medo de cara feia, tinha perdido para o Foreman naquela luta no Zaire (em 1974). Eu me considero o Cassius Clay dessa crise, quero dar uma muqueta nessa crise”, disse. Na época da luta, o boxeador norte-americano já tinha trocado o nome original por Muhammad Ali.

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